Pessoal, no dia 09/11/24 estaremos na Rising Records celebrando meus 50 anos com os melhores clássicos! Teremos convidados especiais para somar em algumas músicas. Fazemos tudo isso de forma independente, então quem quiser apoiar a banda pode contribuir com qualquer valor via Pix. Sua presença e colaboração são muito bem-vindas
Pix para contribuição: marciorangel@hotmail.it
50 anos de vida, 35 anos de música
Alcançar 50 anos é trilhar um caminho repleto de histórias, experiências e aprendizado. Para mim, essa jornada sempre esteve entrelaçada com a música, graças à influência dos meus pais. Meu pai, Antônio Miranda, "o dentista do povo", era um apaixonado por música. Além de ser um grande colecionador de discos, CDs e fitas cassete, adorava tocar acordeão. As manhãs de domingo eram preenchidas com suas seleções musicais, que iam de choro e tango à música nordestina e internacional, como foxtrot e valsas. Minha mãe, por sua vez, também tinha apreço pela música e arranhava um pouco no violão. Esse ambiente familiar despertou e alimentou a paixão que já existia dentro de mim.
Essa conexão musical tem raízes profundas. A família do meu pai vem do Porto, em Portugal, e muitos dos meus antepassados tiveram envolvimento com a arte. Entre eles, destaco Francisco Miranda, Ramiro Miranda e Totóezinho Miranda, meu tio-avô, que integrou uma orquestra nas décadas de 60 e 70 e se destacou como músico em nossa cidade.
Minha imersão nesse universo começou cedo. Aos 12 ou 13 anos, entre 1987 e 1988, eu já gostava de comprar discos e explorar diferentes estilos e bandas. Foi nessa época que adquiri minha primeira guitarra e dei meus primeiros passos na música. Meu pai, que amava arte, me levou a lojas de discos e fitas, comprando todo o equipamento musical necessário, uma banda completa com todos os instrumentos e equipamentos de som. A partir daí, fui montando bandas e desenvolvendo minha paixão pela música. Aos 15 anos, fiz minhas primeiras aulas no Sesi com o professor Cid, onde comecei a me familiarizar com o violão. Como sou canhoto, ele me incentivou a tocar ao contrário, sugerindo que, em vez de trocar as cordas, eu simplesmente virasse o instrumento de cabeça para baixo. Cid mencionou João de Deus, que tocava dessa maneira, e disse que eu também poderia desenvolver meu estilo assim. Meu pai chegou a ligar para João, pedindo que ele me ensinasse. Visitei a casa dele uma vez, mas acabei não continuando, pois João era muito conhecido na época e sua casa estava sempre cheia de músicos. Não queria incomodá-lo, então segui desenvolvendo meu próprio jeito de tocar.
Mais tarde, conheci Chico Barbeiro, marido da minha tia Ivonice Jales. Ele era boêmio e tocava em serestas, e foi quem afinou meu instrumento nos primeiros passos, quando eu ainda não sabia bem como fazê-lo. Desde então, são 35 anos de dedicação, descobertas e momentos inesquecíveis.
Essa jornada nem sempre foi fácil. A arte tem seus altos e baixos, e o mercado impõe desafios com suas políticas e adversidades. A essência da arte é justa; o problema está no sistema, que muitas vezes é sujo — mas isso é outra conversa.
A música me levou além das fronteiras, permitindo que eu conhecesse culturas e fizesse amizades em várias partes do Brasil e do mundo. Uma das parcerias mais marcantes foi com Michela D'Alessandro, produtora do Siena Guitar Festival, que não apenas abriu caminhos pela Europa, em países como Brasil, Portugal, Itália e Reino Unido, mas também ampliou minha visão musical e me conectou a gravadoras, músicos e festivais de renome. Michela sempre foi uma apoiadora entusiasta do meu trabalho, e sua colaboração foi fundamental para consolidar minha presença no cenário europeu, trazendo novas oportunidades e experiências enriquecedoras.
Lembro com carinho do saudoso John Renbourn, lendário músico escocês que influenciou Eric Clapton. Ele me viu tocar em um festival e me convidou para a Escócia, onde tive a honra de me apresentar ao lado de grandes nomes da guitarra e da música mundial, como o próprio Renbourn e Frank Vignola. Na Itália, tive o prazer de tocar em diversos festivais de guitarra e jazz, dividindo o palco com artistas como Tommy Emmanuel, Stochelo Rosenberg, Laurence Juber, Julius Pastorius (filho de Jaco Pastorius), Biréli Lagrène, Flávio Bolto e Fabrizio Bosso. Também guardo na memória a menção especial de Darryl Jones, ex-integrante de Miles Davis e atual baixista dos Rolling Stones, que elogiou minha performance e uma das minhas composições no festival internacional de Soave — coisas que o dinheiro nunca vai pagar.
Ao longo dos anos, tive a alegria de tocar com músicos talentosos, participar de festivais importantes e ver meu trabalho e estilo reconhecidos em revistas especializadas. A música abriu inúmeras portas e enriqueceu minha trajetória de forma única.
Esses 35 anos de carreira simbolizam resiliência, amadurecimento e conquistas. Cada desafio enfrentado e cada palco dividido foram oportunidades de crescimento e aprendizado.
Hoje, ao celebrar meus 50 anos, não olho apenas para o passado, mas também para o presente e o futuro. Continuo aprendendo e caminhando ao lado da música, que sempre foi uma companheira fiel.
Para mim, o verdadeiro artista não busca a fama, mas sim o reconhecimento. A fama é como fumaça — passageira e volúvel. O reconhecimento, por sua vez, é fruto do legado construído com esforço e dedicação. São os momentos simples que se somam nessa trajetória e dão sentido à nossa caminhada.